A epigenética vem mostrar que nós somos os grandes responsáveis pela nossa própria saúde. Essa é a área da biologia que estuda como o ambiente pode causar mudanças de expressão em nossos fenótipos, sem alterar nosso código genético. Não somos reféns dos nossos genes. Todos nós temos o nosso genoma, nossa informação genética, mas acontece que nem todos os genes que herdamos serão expressos, alguns serão, outros permanecem silenciados. Existe todo mecanismo de modulação para que a expressão aconteça e isso está ligado majoritariamente às nossas próprias escolhas de estilo de vida. A contribuição genética para a grande maioria das doenças, chega no máximo a 30%, então, 70% está associada ao estilo de vida. A epigenética é libertadora, mas nos traz um senso de auto responsabilidade.
Nossas células são banhadas pelo fluido intersticial ou matriz extracelular (MEC) ou terreno biológico. As células fazem troca com a MEC, elas importam nutrientes da MEC, como também, exportam dejetos para MEC, que são produzidos pela própria atividade celular. Se a MEC está repleta de substâncias tóxicas, qual será o reflexo na saúde de nossas células? A qualidade da MEC determina a qualidade da nossa saúde.
O estresse é considerado uma epidemia mundial e acomete mais de 90% da população. Dependendo das emoções, nós produzimos determinados mediadores químicos, determinados hormônios e neurotransmissores que afetam diretamente nossa saúde como um todo. O excesso de cortisol gera hostilidade; a ocitocina se relaciona com afeto; a dopamina com felicidade e a serotonina e endorfina com bem-estar. Os níveis elevados e contínuos de estresse estão diretamente relacionados com uma supressão do funcionamento adequado do nosso sistema imunológico, predispondo ao desenvolvimento de uma série de doenças. O estresse, por si só, não é uma resposta negativa, pelo contrário, é uma resposta fisiológica, adaptativa de sobrevivência e que nos trouxe até os dias atuais. Em milésimos de segundos acontecem milhares reações físico-químicas para colocar nosso organismo num estado de emergência. Antigamente, após o momento de tensão, nós voltávamos para o estado de equilíbrio. Hoje nós não nos permitimos voltar ao estado de equilíbrio, ficamos absorvendo todas as preocupações mantendo o eixo do estresse ativado. O eixo do estresse compreende ativações do hipotálamo, glândula pituitária e suprarrenais.
Quando inalamos um óleo essencial (OE) os componentes voláteis se ligam aos receptores olfativos localizados na mucosa da cavidade nasal, e com isso eles disparam um potencial elétrico, um impulso nervoso, que atinge diretamente o sistema límbico, que é o grande gerenciador das nossas emoções. O mais interessante, é que, de alguns anos para cá, descobriu-se que temos, receptores olfativos, na grande maioria dos tecidos do nosso corpo, inclusive na pele. Esta descoberta nos leva a uma nova era de conhecimento com mais e mais potenciais terapêuticos dos OE.
Determinados OE podem ser indicados para níveis de estresse e ansiedade, pois promovem uma resposta tranquilizante no nosso SNC pela modulação gabaérgica. Alguns deles:
-Bergamota (Limoneno, Acetato de Linalila e Linalol): efeito positivo na ativação do sistema parassimpático, diminuição do nível de cortisol salivar, promovendo uma resposta de relaxamento.
-Sálvia Esclaréia (Acetato de Linalila e Linalol) aumenta o 5-HTP (5-Hidroxitriptofano) precursor da serotonina que é o principal neurotransmissor do hormônio relacionado ao bem-estar e ao mesmo tempo, também, a uma diminuição dos níveis de cortisol.
-Lavanda Francesa (Acetato de Linalila e Linalol): é o OE mais estudado no mundo. Existem várias publicações científicas que demonstram o efeito ansiolítico da lavanda comparado aos efeitos proporcionados por alguns benzodiazepínicos convencionais, mas que promovem efeitos colaterais. Outros estudos mostram, inclusive, o efeito antidepressivo da lavanda.
Ao inalarmos mais profundamente um OE os componentes deste OE chegam nos pulmões onde os alvéolos pulmonares estão irrigados por muitos capilares sanguíneos. Os componentes dos OE serão absorvidos por estes capilares e cai na corrente sanguínea podendo ser distribuído sistematicamente. Através da mesma via, a inalatória, temos dois mecanismos: um, o impulso nervoso que chega ao sistema límbico e outro, a presença física dos componentes do OE no nosso cérebro, modulando os neurotransmissores refletindo no manejo do nosso estado emocional.
Devido ao nosso estilo de vida, todos nós estamos mais ou menos inflamados, ou mais ou menos intoxicados. Nossa vida moderna é altamente inflamatória. A inflamação crônica é silenciosa e persistente e é a base do desenvolvimento de absolutamente todas as doenças crônicas que são as mais prevalentes no mundo atual. O estresse crônico está ligado com a saúde mental, com a inflamação, com a desregulação imune e com a disbiose. Aproximadamente 80% das células do nosso sistema imune estão localizados no nosso intestino. A microbiota intestinal é uma grande educadora das nossas células imunes. O eixo intestino cérebro é uma comunicação bidirecional. A neuroinflamação predispõe ao desenvolvimento de estresse, ansiedade, depressão, problemas de cognição desde foco, memória, concentração e de doenças neurodegenerativas.
Alguns OE atuam de forma positiva na própria microbiota intestinal. Atuam na morfologia do intestino auxiliando a preservar a função barreira. O B-Cariofileno presente no OE de Copaíba é um potente anti-inflamatório, modulador da resposta imune e também tem efeitos ansiolíticos.
Outros OE, como: Cariofileno e Alfa Pineno da Pimenta Preta, B Cariofileno e Elemeno do Ylang Ylang, Acetato de Linalila e Linalol da Lavanda, Mentol e Mentona do Hortelã Pimenta, Linalol do Tomilho QT Linalol, Citronelol e Geraniol do Gerânio, Alfa Pineno do Olíbano e B-Cariofileno da Priprioca brasileira podem apresentar também estes efeitos.
A bioacumulação de substâncias tóxicas leva a uma série de desregulação comprometendo o sistema imunológico, aumentando a resposta inflamatória e o estresse oxidativo, gerando uma cascata de desequilíbrio. Substâncias como metais, agrotóxicos, pesticidas, químicos industriais, excesso de medicamentos, dentre outros, tem efeito de disrupção hormonal, interferindo diretamente na sinalização dos nossos hormônios, sendo desastrosos na nossa saúde. Estas substâncias podem aumentar o risco de doenças relacionadas com a fertilidade, obesidade, síndrome metabólica, disfunção da tireóide, ovário policístico, menstruação irregular, cânceres de mama, de ovário e de próstata, até doenças autoimunes. As enzimas presentes principalmente no fígado, fazem todo processo de biotransformação para que as substâncias tóxicas sejam eliminadas do nosso organismo.
Os OE estão entre as substâncias naturais mais antioxidantes que existem na natureza. O componente Citral presente no OE de Capim Limão e Manjericão QT Citral, está associado com o aumento da enzima GST (Glutationa S Transferase) que promove efeito detox.
Vários OE têm importante atividade antioxidante que de uma forma indireta, auxiliam, também, nos processos de detoxificação, como: o Limoneno dos Cítricos, o Eugenol do Cravo, o Timol do Tomilho QT Timol e o Aldeído Cinâmico da Canela.
Os OE de lavanda, bergamota, copaíba, capim limão, dentre outros, podem ser uma ferramenta de suporte para cuidarmos da nossa saúde, mas para se ter uma saúde integral é necessário ter equilíbrio no nível físico, emocional, mental e espiritual.
A ciência se constrói com o tempo, com repetitividade e observação.
Referências Bibliográficas:
Valerie Ann Worwood. The complete book of essential oils and aromatherapy, 1991.
Robert Tisserand and Rodney Young. Essential Oil Safety, 2014.
Gill Farrer-Halls. A Bíblia da Aromaterapia, 2016.
Heather Patisaul and Scott Belcher. Endocrine Disruptors, Brain and Behavior, 2017.
Dominique Baudoux. O grande Manual da Aromaterapia, 2019
Rebeca Virgínia. Responsabilidade Curativa: Como a Física Quântica, a Epigenética, a Medicina Holística e o pensamento sistêmico podem ajudá-lo a construir uma vida saudável, 2021.
Passos, N.N et al. Psychological and neurophysiological effects of inhaled aromatherapy. Research, Society and Development, v.11, n.14, 2022.
Texto escrito por Karla Constâncio. Karla é farmacêutica e empresária com 37 anos de experiência no setor cosméticos, perfumaria e higiene pessoal. Atualmente comanda duas empresas de fragrâncias e cosméticos, a K.Constâncio e a Casa Fantaguzzi.
